sábado, 26 de julho de 2008

A Equilibrista

Defronte à corda bamba
A equilibrista mira o espaço
Vacila ante o primeiro passo
Por comprometer de novo a vida
Vestida com pouco mais que uma tanga
È como uma passista de samba
A avançar só na avenida.
Agora, já na corda caminhando
Lentamente, passo a passo,
Se pergunta se a vida é um fracasso
E se ainda há tempo pra voltar.
È quando se surpreende sonhando
E abre os olhos se dizendo
Que o que importa é se equilibrar
Pois, no fundo, ela teme o precipício
Ou que o homem-bala passe agora
Pois nesse circo não há hora
De um espetáculo terminar
Para o outro ter ínicio.


Prosegue meticulosamente
Só tendo como apoio seu bastão
Mede insegurança e decisão
Para dar mais um passo a frente
É quando para de repente:
È hora de agitar a platéia:
Embaixo, o tambor ressoa
E ela, num salto, como vôa
Na grande cambalhota de estréia.
E ouve os aplausos a retinir
E de todo medo que fez despertar
Só sente o medo dela mesma a aplaudir
A vida lhe chamando pra lutar.
E avança a ver se consegue relembrar
O sonho que ela sonhou em japonês
Ou se vai ter que sonhar mais uma vez.
Do picadeiro, ouve um chicote que estala
Mas só receia que passe o Homem-bala
...Como o amor, talvez...


Ah! O mundo em espetáculo!
Não há tempo de pensar na morte
Nem se na vida há azar ou sorte
E na tragicomédia ser o seu oráculo.
E ela segue, a tentar se convencer
De ser junto com o público uma só
Mas tropeça e se reconhece só
Ao se desesperar pra não morrer.
Se agarra à corda quase com fé
E depois de certa vacilação
Consegue se por de novo em pé
E prosegue, agora sem bastão.
É quando, em meio a tanto equilibrar
E vendo embaixo tantos olhares frios
Se dana de nunca se danar
E, cagando pra multidão que sorri brios,
Quer mais é que lhe venha o Homem-bala
Pra voarem sobre a multidão sem fala
Num equilíbrio acima dos equilibrios.



Por: Sherazade Madeira !

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